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SPIC fortalece presença no Nordeste com investimento de R$ 780 milhões em novo parque eólico
Complexo no RN é anunciado em um momento de diminuição de projetos, cortes de geração e sobreoferta de energia causada por subsídios Enquanto o segmento eólico brasileiro continua em estado de espera diante de uma crise que não permite que novos projetos saiam do papel, a SPIC Brasil, subsidiária da State Power Investment Corporation of China (SPIC) saiu na frente e anunciou investimento de R$ 780 milhões para a construção de um complexo eólico que soma 105,4 megawatts (MW) de capacidade instalada, na região de Touros, no Rio Grande do Norte. Serão 17 aerogeradores com capacidade de 6,2 MW de potência. Ao Valor, a CEO da empresa, Adriana Waltrick, disse que ainda faltam as licenças ambientais da linha de transmissão que vão escoar a energia e resolver questões fundiárias, já que a rede deve passar por 115 propriedades, mas o projeto vai caminhar assim mesmo. Por conta da pressão do acionista controlador, o governo chinês, a obra começa nos próximos dias para que o empreendimento esteja operando até 2026. A concorrência pública para definir qual será a fabricante dos equipamentos está na fase final.
Crise no setor de energia eólica: na contramão
Apesar do momento delicado do setor, a executiva diz que bons ativos energéticos e estabilidade regulatória, aliados à capacidade financeira e tecnológica da China, criaram as condições ideais para a SPIC no setor elétrico.
“O setor de energia eólica passa, sim, por diminuição de projetos, há sobreoferta de energia no mercado e cortes de geração para todos os ‘players’, mas estamos no Brasil olhando para o longo prazo. Os primeiros pontos da curva não nos desanimam em relação ao potencial do Brasil em crescimento e vamos continuar investindo”, diz.
Outro detalhe em aberto é o financiamento, que ainda está sendo negociado. A empresa prevê que 60% dos recursos sejam com capital de terceiros e os outros 40% com dinheiro próprio. A venda da energia ocorrerá por meio da comercializadora da empresa no mercado livre de energia, segmento em que o consumidor pode escolher o seu fornecedor e estabelecer contratos por fonte, prazo ou preço. De modo geral, os investidores tomam decisões de novos aportes quando já têm contratos de longo prazo para minimizar os riscos. A SPIC segue outro caminho e o desafio será encontrar os compradores, os chamados “offtakers”, já que a oferta de energia no Brasil é maior do que a atual demanda. A crise no setor eólico tem provocado um processo de desindustrialização no país. WEG e Siemens Gamesa informaram a parada temporária da linha de aerogeradores, a GE anunciou a saída do Brasil e a Nordex reduziu a produção. Por outro lado, a chinesa Goldwind está instalando sua linha de produção em Camaçari (BA).
“Foi uma decisão corajosa, pois todo o setor está retraído. O investidor chinês nos cobrou sobre os contratos, mas vamos conseguir”, acredita. “A SPIC cresce pelo menos 20 GW por ano. Queremos trazer no mínimo 10% disso para o Brasil”, acrescenta Waltrick.
Exportação de energia e outras soluções
SPIC cresce 20 GW por ano. Queremos trazer 10% disso para o Brasil” — Adriana Waltrick Ainda é cedo para saber se a construção de um novo complexo sinaliza um ponto de inflexão. O setor tem cobrado do governo uma política industrial para o desarranjo das cadeias produtivas. Um relatório do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC) concluiu que se o Ocidente não entender que a indústria de renováveis precisa de apoio, a China deve dominar a produção. Procurado, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que está acompanhando de perto a indústria eólica nacional e adotando medidas concretas para manter os investimentos, como, por exemplo, os leilões de transmissão e a Medida Provisória que encaminhou em abril para impulsionar as energias renováveis. Na avaliação do professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, este é um fenômeno econômico que causou um excesso de oferta motivado pelas vantagens de subsídios desnecessários oferecidos aos segmentos eólico e solar, criando um descompasso entre oferta e demanda.
“Para a situação da indústria eólica, a saída é a exportação. No médio prazo, o setor de hidrogênio vai gerar uma demanda, com isso, abre um cenário de novos investimentos. Outro caminho é trazer alternativas de demanda com grandes consumidores, como grandes ‘big techs’, que podem vir para o Brasil, porque são eletrointensivas e a energia barata e renovável é um atrativo para elas”, diz Castro.
Crescimento na geração de energia renovável
Desde quando chegou ao Brasil, em 2017, a empresa cresceu quase 60 vezes, saindo de 58 MW de capacidade instalada para 3,4 GW atualmente. A controlada do governo central da China começou com a compra da Pacific Hydro; meses depois arrematou, por R$ 7,18 bilhões, a usina de São Simão; em 2020 comprou uma fatia dos projetos termelétricos GNA I e GNA II, além da participação nos futuros projetos de expansão GNA III e GNA IV; e em 2024 encerrou o ciclo de R$ 2 bilhões em um complexo solar que soma 738 MWp. A SPIC aposta também em projetos de hidrogênio e em eólicas em alto-mar (offshore) nos portos de Açu e Pecém, mas a falta regulação impede uma decisão mais decisiva seja tomada. Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/06/05/spic-vai-investir-r-780-milhoes-em-novo-parque-eolico.ghtml
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