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O futuro da energia
Por *Adriana Waltrick A inovação é o que move a transição energética que o Brasil tanto precisa ocorra em todo o setor. Sim, ainda temos muitos desafios, mas ao mesmo tempo oportunidades que nos colocam frente ao debate nos mais diversos fóruns, como discutido durante a Agenda Setorial 2022. Promover mudanças estruturais nas matrizes energéticas globais é um dos pilares do planejamento de ações da SPIC Brasil. O nosso compromisso é o de desenvolver novas tecnologias enquanto contribuímos para a ampliação do arcabouço regulatório sobre o assunto, tanto no Brasil como no mundo, apoiando mudanças de comportamento do setor e do mercado de energia. E, nesse sentido, buscamos atuar fortemente em projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) com foco em eficiência energética, sustentabilidade, comercialização e regulação de energia. Em 2021, investimos R$ 4,73 milhões em P&D e reestruturamos nosso departamento responsável por conduzir projetos no setor, unindo as áreas de inovação e estratégia sob o mesmo guarda-chuva corporativo. Importantes inciativas voltadas para o futuro da energia estão em nossos pilares estratégicos, um deles para o desenvolvimento de uma planta de fabricação de hidrogênio verde a partir da energia solar fotovoltaica, a ser instalada nas dependências da Usina Hidrelétrica São Simão, em Goiás. Essa iniciativa está sendo desenvolvida em parceria com o Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CEPEL), da Eletrobras, e o State Power Institute (ISEST), da SPIC Global, firmada via Memorando de Entendimentos em 2020, com objetivo de fomentar o estudo e a pesquisa em energia inteligente (smart energy) entre o Brasil e a China. Como nossa energia vem da soma de múltiplos fatores e parceiros, buscamos constantemente promover o intercâmbio entre engenheiros brasileiros e chineses, para “tropicalizar” soluções, trazendo esses avanços para a realidade do nosso país e, com isso, conduzir projetos-piloto que serão pontos de partida para o lançamento de soluções comerciais. E, nesse sentido, atuamos no desenvolvimento de projetos de energia integrada (smart energy) em condomínios, prédios comerciais ou escritórios. A perspectiva é que o CEPEL desenvolva o projeto buscando incorporar os avanços tecnológicos do ISEST, para que as pesquisas partam de um conhecimento prévio. Isso significa que estamos trabalhando com o CEPEL o desenvolvimento de projeto conceitual de engenharia de uma planta integrada e multipropósito de hidrogênio verde (H2V) e amônia verde. Dentre outros objetivos, o projeto visa avaliar a economicidade de soluções de engenharia para aplicações reais em diferentes condições e escalas, tendo em vista o fato de o hidrogênio verde ser considerado importante vetor energético para a descarbonização e integração de diversos setores, principalmente o da indústria e o da mobilidade. A SPIC, que pretende ser um catalisador da transição energética e promover a adoção do hidrogênio verde, tem algumas possibilidades pela frente: apostar em células de combustão, utilizada em transporte público para mobilidade urbana, descarbonificando o setor de transportes; e com o hidrogênio a partir da eletrólise da água atuar na produção de amônia verde, que é matéria-prima para fabricação de fertilizantes. Como sabemos, o Brasil tem vantagens comparativas muito interessantes, a começar pela abundância de recursos naturais renováveis e pela competitividade da eletricidade renovável. As oportunidades, no curto prazo, são voltadas para exportação do hidrogênio verde a países como a Alemanha, que já sinaliza interesse em promover leilões internacionais. No médio prazo, vamos avaliar a utilização do hidrogênio verde em setores estratégicos da economia brasileira, como produção de aço verde, ou na utilização da amônia verde como matéria-prima para fabricação de fertilizantes. Essa seria uma grande oportunidade para o Brasil, pois poderá reduzir os custos de importação desses insumos. O Brasil tem uma das energias renováveis mais competitivas do mundo. Atualmente o hidrogênio é obtido (99%) por meio de processos que utilizam combustíveis fósseis. Por outro lado, importamos fertilizantes que podem ser produzidos localmente, a partir da amônia verde, junto com setores importantes como a agroindústria. Podemos otimizar nossa competitividade lá fora com aquilo que o mundo busca, que é seguir as metas de descarbonificação do planeta até 2050. Estamos muito bem-posicionados para avançar. Há demanda também para soluções para o mercado brasileiro, mas é necessário desenvolver e aplicar essas soluções no médio prazo, para torná-las escaláveis. Também precisamos participar da construção da regulação do hidrogênio no Brasil. Participamos de grupo de estudo dentro do Ministério de Minas e Energia, com nossas contribuições, para desenvolver uma regulação bastante clara para o hidrogênio: como transportar, como armazenar, como a produção será taxada etc. O Brasil pode e precisa planejar esse espaço para o futuro. Temos discutido o tema intensamente, aguardando definições que deverão sair daqui a um ou dois anos. Por isso somos bastante otimistas e interessados em debater e construir esse futuro promissor para a energia do Brasil. *Adriana Waltrick é CEO da SPIC Brasil, mestre em Administração de Empresas, Adriana possui MBA pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology - EUA), especialização em Finanças, Logística e Mestrado em Administração de Empresas pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
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